CITOPATOLÓGICO CERVICO-VAGINAL (PAPANICOLAU)
- Liga Acadêmica de Análises Clínicas UFC
- 4 de out. de 2022
- 4 min de leitura
Informações ao paciente
Amostra
Coleta citopatológica das células do colo do útero.
Preparo pré-coleta
Deve ser evitado o uso de cremes ou duchas vaginais por 48 horas anteriores ao exame e não ter relações sexuais pelo menos 24 horas antes do procedimento. A coleta em algumas fases do ciclo ovulatório deve ser evitada, sendo o caso da fase pós-ovulatória (16° ao 28° dia), e da fase menstrual, visto que o excesso de sangue prejudica a leitura. O exame preventivo é indicado a todas as mulheres sexualmente ativas independente da idade, podendo ser interrompido aos 70 anos caso os últimos exames obtiverem resultados normais.
Interpretação básica com valores de referência
O exame citopatológico do colo uterino também conhecido como Papanicolau ou exame preventivo tem o objetivo de analisar em microscópio células coletadas do colo uterino para a detecção do câncer de colo de útero.
Resultado citológico dentro dos limites da normalidade no material examinado: indica um diagnóstico normal. Caso haja alguma alteração nas células serão indicados exames mais específicos como a Colposcopia para o direcionamento do tratamento correto. Outros resultados:
a. Negativo para câncer: se esse for o seu primeiro resultado negativo, você deverá fazer novo exame preventivo daqui a um ano. Se você já tem um resultado negativo no ano anterior, deverá fazer o próximo exame preventivo daqui a três anos;
b. Infecção pelo HPV ou lesão de baixo grau: você deverá repetir o exame daqui a seis meses;
c. Lesão de alto grau : o médico decidirá a melhor conduta. Você vai precisar fazer outros exames, como a colposcopia;
d. Amostra insatisfatória: o material coletado não teve qualidade suficiente para fazer o exame. Você deve repetir a coleta logo que for possível.
Informações ao profissional de saúde
Técnicas utilizadas
É coletado material citológico da Junção Escamo-Colunar (JEC), onde há presença de células epiteliais escamosas e glandulares. A lâmina é fixada com álcool etílico imediatamente após a coleta para posteriormente ser corada pela coloração de Papanicolaou. Após a coloração, a lâmina pode ser observada ao microscópio óptico de campo claro em diferentes aumentos.
Interferentes
a. A coleta na fase pós-ovulatória (16° ao 28° dia) deve ser evitada, onde a citólise intensa prejudica a análise das características citológicas, principalmente citoplasmáticas; e, na fase menstrual, onde o excesso de sangue prejudicará a fixação, coloração e, consequentemente, a leitura. Nas mulheres na menopausa a coleta pode vir acompanhada de hemorragia, e os esfregaços geralmente se apresentam celularmente escassos. Assim, recomenda-se uma nova coleta sob estímulo hormonal, para que haja maturação do epitélio. O excesso de exsudato inflamatório que pode estar presente na região do colo do útero, onde será coletado o material, também é um interferente devendo, portanto ser retirado com gaze antes da coleta.
b. Amostras Insatisfatórias:
- Amostras não processadas - lâmina quebrada ou não identificada;
- Amostras processadas - dessecamento, esfregaço hemorrágico, abundante exsudato inflamatório, fungos contaminantes, escassez celular, amostra muito espessa.
Interpretação rebuscada
Células presentes na amostra:
Podem estar presentes células representativas dos epitélios do colo do útero:
a. Células escamosas.
b. Células glandulares (não inclui o epitélio endometrial).
c. Células metaplásicas.
Alterações celulares benignas (reativas ou reparativas)
a. A prevalência de NIC II/III subjacente em mulheres com alterações celulares benignas é baixa (cerca de 2%).
b. Quando a desordenação celular ocorre nas camadas mais basais do epitélio estratificado, estamos diante de uma Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau I (NIC I) – Baixo Grau (anormalidades do epitélio no 1/3 proximal da membrana). Se a desordenação avança 2/3 proximais da membrana estamos diante de uma Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau II (NIC II) – Alto Grau. Na Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau III (NIC III) – Alto Grau, o desarranjo é observado em todas as camadas, sem romper a membrana basal.
Inflamação sem identificação de agente
a. É caracterizada pela presença de alterações celulares epiteliais, geralmente determinadas pela ação de agentes físicos, os quais podem ser radioativos, mecânicos ou térmicos, ou, ainda, químicos como medicamentos abrasivos ou cáusticos, quimioterápicos e acidez vaginal sobre o epitélio glandular. Ocasionalmente, podem-se observar alterações decorrentes do uso do dispositivo intrauterino (DIU), em células endometriais e mesmo endocervicais. Casos especiais do tipo exsudato também podem ser observados nessas situações. O exame de Papanicolau apresenta evidentes limitações no estudo microbiológico e, assim, tais alterações podem se dever a patógeno não identificado. Os achados colposcópicos comuns são ectopias, vaginites e cervicites.
Resultado citológico indicando metaplasia escamosa imatura
a. A palavra “imatura”, em metaplasia escamosa, foi incluída na Nomenclatura Brasileira para Laudos Citopatológicos buscando caracterizar que essa apresentação é considerada como do tipo reparativa.
Resultado citológico indicando reparação
a. Decorre de lesões da mucosa com exposição do estroma e pode ser determinado por quaisquer dos agentes que determinam inflamação. É, geralmente, a fase final do processo inflamatório.
Resultado citológico indicando atrofia com inflamação
a. Na ausência de atipias, é um achado fisiológico após a menopausa, o pós-parto e durante a lactação. Existem evidências apontando para dificuldade em se fazer o diagnóstico diferencial entre atrofia vaginal e lesões intraepiteliais escamosas de baixo e alto grau. O uso de terapia estrogênica tópica diminui as alterações celulares degenerativas e proporciona um esfregaço com um fundo limpo. Não foram encontradas evidências para embasar uma conduta com objetivo de melhorar a qualidade do esfregaço. Embora a absorção sistêmica do estrogênio tópico seja mínima, seu uso deve ser cauteloso nas mulheres com história de carcinoma de mama ou que fazem uso dos inibidores da aromatase.
Resultado citológico indicando alterações decorrentes de radiação ou quimioterapia
a. As mulheres submetidas à radioterapia pélvica com ou sem braquiterapia frequentemente apresentam sintomas vaginais crônicos, tais como estenose (59%), ressecamento (47%), inflamação (29%) e sangramento (31%), entre outros. O comprometimento vaginal é mais frequente e acentuado quando a radioterapia é associada à quimioterapia. A Sociedade Americana para Estudos sobre a Menopausaindica uso de estrogênio tópico em baixa dose para estimular a regeneração epitelial, cicatrização e elasticidade da vagina
A quimioterapia também pode afetar as células do colo do útero. O esfregaço mostra células anormalmente aumentadas, com núcleos que parecem discarióticos, porém os demais elementos celulares presentes na amostra aparentam ser perfeitamente normais. Também pode ser observada multinucleação de células não neoplásicas.
Achados microbiológicos
a. Lactobacillus sp. − Cocos. − Outros Bacilos. São considerados achados normais, pois fazem parte da microbiota normal da vagina. Na ausência de sinais e sintomas, a presença desses microorganismos não caracteriza infecção que necessite tratamento.
Referências bibliográficas
Brasil. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Divisão de Apoio à Rede de Atenção Oncológica. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. 2 ed. Rio de Janeiro: INCA, 2016.
NETO, Jacinto da Costa Silva. Citologia Clínica do Trato Genital Feminino. Rio de Janeiro: Revinter, 2012.
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